segunda-feira, 13 de maio de 2013

Como os bancos lucram com a fome do mundo

Por Mauro Santayana
A insuspeita Fundação Gates divulgou interessante estudo sobre o controle dos preços dos alimentos pelos bancos, por intermédio dos fundos especulativos (hedge). Da mesma forma que os bancos atuam no mercado derivativo com as primes do mercado imobiliário, fazem-no com os estoques de alimentos, o que aumenta espantosamente os preços da comida, sem que os produtores se beneficiem. Um exemplo, citado pelo estudo, que tem o título sugestivo de People die from hunger while banks make a killing on food — as pessoas morrem de fome, enquanto os bancos se enriquecem de repente, especulando com os alimentos.

Como exemplo, o estudo cita o Fundo Armajaro, da Grã-Bretanha, que comprou 240 mil toneladas de cacau (7% da produção mundial) e as reteve até obter o maior preço da mercadoria nos últimos 33 anos. “Os preços do trigo, do milho e do arroz têm subido significativamente, mas isso nada tem a ver com os níveis de estoque ou das colheitas e, sim, com os traders, que controlam as informações e especulam no mercado”  conforme Olivier de Schutter, relator das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação. Os neoliberais sempre usam o argumento canalha de que o único caminho rumo ao enriquecimento geral e à igualdade é a do mercado sem  nenhum controle do Estado, dentro da fórmula de Mme. Thatcher: o pobre que quiser viver melhor, que se vire.  A senhora Francine Mestrum, em seu estudo, contradiz a falácia: “Em primeiro lugar, a transferência direta de recursos, que Lula iniciou no Brasil, provou ser efetiva ajuda direta aos extremamente pobres para irem adiante, em busca de empregos; ou para criarem seu próprio emprego; para melhorarem os padrões de saúde e reduzir o trabalho infantil. Este é o principal argumento para o desenvolvimento desses sistemas, e o próprio Banco Mundial os endossa”.


Como sabemos, são vários os países em desenvolvimento que adotaram iniciativas semelhantes. Enquanto a Alemanha obriga os países europeus a cortarem até o osso seus orçamentos sociais  deixando como saldo  o aumento espantoso do número de suicídios ou das pessoas mortas por falta de assistência médica do Estado e, a cada dia, mais trabalhadores  obrigados a buscar, na lata de lixo, o que comer   os bancos continuam acumulando, e de forma criminosa, dinheiro e poder como nunca. O HSBC mundial, que ganhou do governo FHC o Banco Bamerindus, e que tem no Brasil o seu terceiro mercado mais lucrativo do mundo, teve que pagar quase 2 bilhões de dólares de multa, em acordo feito com o governo norte-americano, por ter, comprovadamente, lavado dinheiro do tráfico de drogas. Como se sabe, mesmo depois de ter pedido desculpas públicas pelo crime, o HSBC foi acusado, em março deste ano, de lavagem de dinheiro, evasão fiscal e remessa ilegal de recursos ao exterior pelas autoridades do governo argentino. Enquanto menos de um por cento dos seres humanos controlar, mediante sua riqueza, toda a população do mundo, a igualdade irá sendo empurrada cada vez mais para o futuro, e serão considerados nutridos os que ganharem cinco reais ao dia.

Em 1973, quando o Muro de Berlim ainda dividia o mundo em dois blocos econômicos e políticos, o então presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, disse que todas as nações deviam esforçar-se para acabar com a pobreza absoluta  que só existia nos países subdesenvolvidos  antes do novo milênio. Naquele momento os países ocidentais ainda davam alguma importância à política de bem-estar social, não só como um alento à esperança de paz dos povos mas, também, como uma espécie de dique de contenção contra o avanço do socialismo nos países do Terceiro Mundo. A Guerra do Vietnã,  com seu resultado desastroso para os Estados Unidos, levou Washington a simular sua boa vontade para com os povos pobres. Daí o pronunciamento de McNamara.

O novo milênio não trouxe o fim  da miséria absoluta, embora tivesse havido sensível redução  mais em consequência do desenvolvimento tecnológico, com o aumento da produtividade de alimentos e bens de consumo primário, do que pela vontade política dos governos.

Na passagem do século, marcada pelo desabamento das Torres Gêmeas, o FMI, o Banco Mundial  e a própria ONU  reduziram suas expectativas, prevendo, para 2015, a redução da pobreza absoluta à metade dos índices registrados em  1990. Em termos gerais, essa meta foi atingida cinco anos antes, em 2010. A extrema pobreza, que atingia 41,7% da população mundial em 90, caiu para 22% em 2008  graças à fantástica contribuição da China e da Índia, conforme adverte Francine Mestrum, socióloga belga, em recente estudo sobre o tema.

Por outro lado, o número absoluto de pobres na África Negra dobrou no mesmo período. A China que, pelo número dos beneficiados, puxou o trem contra a desigualdade, já chegou a um ponto de saturação. Com o seu crescimento reduzido, como se espera, a China levará muitos decênios para baixar o número de seus pobres absolutos à metade.

Considera-se alguém absolutamente pobre quando tem a renda per capita inferior a US$ 1,25 por dia: mais ou menos R$ 2,50, ou seja, 75 reais ao mês. Esse critério é, no mínimo, cínico. É possível viver com esse dinheiro? Há quem possa: os trabalhadores das multinacionais nas tecelagens e confecções de Bangladesh e de outros países da Ásia do Sul não chegam a ganhar cinco reais ao dia.


O governo de Bangladesh, em seu portal, declara ser o país “de portas abertas“ (open door), com todas as garantias e vantagens legais aos investidores, principalmente nas zonas especiais de produção para exportação (Export processing zones). Em Bangladesh a privatização de empresas públicas chegou à perfeição, e a miséria dos trabalhadores, também  conforme a meta do neoliberalismo.

Só há uma saída para o impasse: a mobilização política dos cidadãos de cada país do mundo, em uma organização partidária e ideológica nítida em seus princípios e objetivos e em sua ação coerente, a fim de colocar coleiras nos banqueiros. E será sempre salutar ver um banqueiro na cadeia, como está ocorrendo, menos do que é necessário, nos Estados Unidos.

Campanha salarial dos trabalhadores fundacionais 2013


Na próxima quarta-feira, 15 de maio, se dará o início da campanha salarial dos trabalhadores contratados pela Fadesp, que trabalham nos hospitais João de Barros Barreto, Bettina Ferro de Souza e Restaurante Universitário. Um seminário para discutir e construir a pauta de reivindicações está sendo convocado pelo Sindtifes-PA.

Este ano, além do reajuste salarial e das condições de trabalho, deverá entrar na pauta, mais uma vez, a luta contra a privatização dos hospitais universitários implementada pelo governo Dilma, PT, através da implantação da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). A possível aprovação da empresa pela universidade significa a demissão em massa desses trabalhadores que compõe metade da força de trabalho dos dois hospitais e responsáveis por todo o trabalho no RU.

A elevação inflacionária que tem provocado o aumento do custo de vida no estado deve pautar o índice de reajuste a ser reivindicado. O Pará tem batido recordes na inflação do país, basta verificarmos os preços da farinha e do açaí para constatarmos que esses produtos viraram artigo de luxo.

As péssimas condições de trabalho dos hospitais que já provocaram acidentes com risco de morte, entre várias outras demandas, também serão pontos fortes a serem abordados. Além disso, deveremos resgatar os pontos não cumpridos dos acordos passados, como a licença maternidade de seis meses para as mulheres e a equiparação salarial, até agora não implementados em sua totalidade.

Por tudo isso, é muito importante a participação de todos nesse Seminário que delimitará as pautas a serem apresentadas nas assembleias setoriais.

Todos ao Seminário!
15/05, Setor Recreativo Vadião, às 9h
SEMINÁRIO DE LANÇAMENTO DA CAMPANHA SALARIAL 2013
Assembleias setoriais:
- RU, 16/05, 7:30h;
- HUBFS, 16/05, 11h, Auditório;
- HUJBB, 17/05, 11h, Sala 4 Centro de Estudos.

quarta-feira, 1 de maio de 2013


Reajuste do novo salário mínimo é de R$ 56,00.  (Foto: Natália Mello/ G1) 

40% dos trabalhadores do Pará vivem com salário mínimo, diz Dieese!

 

Salário Mínimo foi criado por Getúlio Vargas no dia do trabalhador em 1940. Segundo Dieese, remuneração não confere poder de compra no Pará.

Do G1 Pará
Apesar de ter ganhos reais, mínimo não dá poder de compra ao paraense. (Foto: Natália Mello/ G1)
 
No dia 1º de maio de 1940 o presidente getúlio Vargas assinou o decreto 2.162 criando o salário mínimo. 73 anos depois, cerca de 40% da população trabalhadora do pará sobrevive com esta remuneração ao longo do mês. Segundo o Departamento Intersindical de de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mesmo obtendo ganhos reais (acima da inflação) nos últimos anos, o salário mínimo compra pouco e não atende ao que determina a constituição.

Em todo o país, entre abril de 2002 e janeiro de 2013 o valor do salário mínimo passou de R$ 200 para R$ 622, um aumento 239% que representa ganho real de 70,49% - o maior desde a sua criação. Porém, apesar do aumento, ele ainda não confere poder de compra para a população: na verdade, em valores atualizados, o valor do mínimo nas décadas de 50 e 60 seria maior que o de hoje: algo em torno de R$ 1.800,00.

Impacto na alimentação
Segundo o Dieese, dos cerca de 3,5 milhões de trabalhadores do estado do Pará, quase 1,4 milhão (cerca de 40%) recebe salário mínimo. Com a cesta básica do paraense custando em torno de R$ 291, este trabalhador gasta quase 47% da sua remuneração apenas para comprar os 12 itens da alimentação básica. Ainda de acordo com o Dieese, desde o começo do Plano Real o mínimo não consegue garantir a alimentação de uma família de quatro pessoas, que custa em torno de R$ 875,58.

A vendedora Kelly Valadares tem 29 anos, ganha um salário mínimo e conta que a remuneração não é suficiente. "Antigamente as pessoas conseguiam sobreviver com o mínimo, mas as necessidades vão aumentando. Dá para fazer supermercado, mas tem que pesquisar bastante", conta a vendedora, que gasta semanalmente R$ 200 com alimentação.

Por conta do custo da cesta básica, que compromete o orçamento, ela diz que precisa planejar com cuidado as compras da casa. "Já deixei de comprar o que eu gostaria de ter, por exemplo televisão LCD ou LED, a gente acaba deixando para depois porque não dá pra comprar. Tem que se programar de toda forma pra adquirir, parcelar em até dois anos pra poder conseguir. O salário mínimo deveria ser de pelo menos  R$ 1.000,00, porque o aluguel está caro e cesta básica é muito cara, mas acho que esse valor já estaria bom", avalia.